sábado, 11 de setembro de 2010

273,15 graus abaixo de zero

A primeira reacção perante algo ou alguém desconhecido, é saber o nome. É quase uma obsessão, um instinto primário que nos assola. Antroponimicamente falando, é universal, todos necessitamos de um, como se isso fosse a regra primordial para a existência, sendo até mais importante que uma contracção cardíaca, um pensamento ou mesmo um sorriso. Todos precisam de um nome, até um cadáver indigente: o Zé Ninguém!

Nome, Alaska! Sim, o nome da cidade é precisamente Nome. Um do locais mais frios neste mundo, um dos locais que venero, o meu Xangrilá. Nome fascina-me, não pelo nome, mas pela desolação, pelo inóspito, pelo branco letal ou talvez pelo extremo da emoção de uma solidão gélida e inominável! Durante horas miro-a de um forma voyeur, conheço-a de fio-a-pavio, um dia será minha, será lá que talvez um dia encontrarei a minha redenção, a minha paz, ou aquilo que mais anseio, um calor não-efémero.
Meço a minha temperatura e não há novidade: zero! Não há, é um zero absoluto, sou emocionalmente gélido, vazio, consciente... E por isso mesmo, pela tal inevitável consciência, persigo ansiosamente os 36.4º, percebi que, mais importante que o meu nome próprio, é sentir. Vale tudo para lá chegar: um risco de coca dá-me 20 minutos de clareza cristalina; uma chinesa dá-me uma hora de torpor pacífico; um risco de MDMA dá-me uma noite de paixões arrebatadas.
Idealizo situações, busco por um conceito de belo previamente encenado e interiorizado, mimetizo comportamentos observados, tento numa ânsia descontrolada mentir-me com todos os dentes que tenho e não tenho, e nas minhas perversões, paixões e orgasmos tenho todos os efeitos das drogas numa só. E por momentos existo... Mas é artificial. Tal como nas drogas, passa depressa, é plástico e efémero. Protelo, insisto, talvez pegue de estaca, mas não. É frio, é branco, é desolador.

Vale tudo para lá chegar: desde o jogo mais perverso à droga mais estimulante! Vale tudo para sentir o que quer que seja, vale tudo para provocar o degelo emocional. E no fim não vale nada, volto ao ponto de partida, onde pelos vistos será sempre o meu ponto de chegada. No fim quero ir embora, quero ir para o conforto do estar só! Não quero aquilo que tenho, só quero aquilo que ainda não tenho.

Mais uma vez, vou a jogo. Algo novo e nunca feito! Vale tudo por uma taquicardia, por um suor frio ou um sentimento de abandono corporal.
As regras estão na mesa:

Ela: Olá! Queres dar uma queca?
Eu: Sim.
Ela: Agora que sabemos que queremos, falta o onde e quando.
Eu: Agora? Assim, sem mais nem menos?
Ela: Sim
Eu: OK...
Ela: No ponto X apanhas-me e não me diriges a palavra. Se for execrável ao teu olhar, dás meia-volta e deixas-me no mesmo sítio. Se fores execrável ao meu olhar, peço-te para dares meia-volta. Se nenhum capitular, só falamos depois de dar a dita...
Eu: OK!

Embora desconfie, lanço-me no desconhecido. Ao chegar, o coração dispara! O que será? Um estafermo? Um assalto? Mesmo com o perigo de uma lâmina nas goelas, avanço sem medo, sinto calor, sinto gotas de suor, sinto arrepios de frio, sinto qualquer coisa...
E no ponto X, à hora marcada, uma mulher alaranjada, esguia, alta e bela entra no carro. Nem uma palavra... Espero a ordem de meia-volta e nada! Sigo caminho.
Joguei pelas regras, e no fim falámos. Coisas fúteis, de circunstância, mas nunca sobre os motivos sombrios nos levaram até ali. Ambos escondemos as nossas verdadeiras razões de tal jogo perverso, perigoso e emocionante. Ficará para uma outra vez, quem sabe...
Descrevo-a de olhos fechados: 1,80m, cabelos ruivos, aliás, é mesmo tudo ruivo, pele branca como leite sem qualquer sinal, um deserto de marcas de nascença, como se fosse a própria negação de uma existência, um cheiro humano, sem os supérfluos aromas sintéticos. Uma pessoa que de execrável nada tem, uma mulher com quem sonhamos... E mais uma vez, anseio por aquilo que ainda não tenho. E o mais intangível neste encontro bizarro está patente na minha pergunta, que teve apenas como resposta, um sorriso e o bater da porta do carro:

-E qual é a tua graça....?

7 comentários:

Anónimo disse...

Pagas-te???

mama a buxa

Anónimo disse...

Sem nome,o Alaska,desolador,as drogas, artificial,o sexo arrebatador, sozinho.....

Completely borderline- excellent

A descricao do encontro é propositadamente feia?Arrepia saber que tanta inquietude habita numa pessoa apenas.

Anónimo disse...

Fucking borderline...

A caminho do abismo sempre , a procura de tudo e nada , abandono de si proprio pelas drogas, pelo jogo, pelo sexo.

You can run, but you can t hide .

Kiss
yOURS

Anónimo disse...

Sabes a cocaína- branca, pura, fria e arrebatadora.

Anónimo disse...

Quando é que te internas?

Chefe Maria Caldeira De Sousa disse...

Separei, pois sim...A palavra, achei que uma só era pouco...
Este anonimo é doente!

mama a buxa

Hortelã Pimenta disse...

interessante...
Há mundos ficcionais q se tocam com a realidade por breves instantes...