sexta-feira, 22 de março de 2013

Anacrónico Anónimo

Gostava de ter uma justificação para a ausência. Gostava de não estar, de não ser, e gostava de não gostar de ser e estar ausente.

Gostava... Um pretérito imperfeito que não me canso de repetir, talvez para justificar as minhas imperfeições, falhas e faltas. Gostava de ter um dom, de conseguir dobrar o tempo, de correr nele ao sabor da minha vontade e parar pouco antes no sítio onde me perdi. Gostava de o fazer para dizer "Gosto! Gosto mesmo muito de ti". Resta-me as memórias, onde vivo ou tento viver. Tento reconstrui-las, esforço-me para para tapar os buracos, e agarro-me às mais fortes como se a minha vida dependesse disso. E lembro-me de ti!

Mas já não passas disso mesmo, de uma memória distante e improvável, de uma memória vintage. Lembro-me de ti, dos teus medos infantis que contrastavam de uma forma engraçada com a tua força física, lembro-me de me sentir arrebatado com o teu sorriso largo e o ligeiro curvar da tua cabeça, lembro-me de tremer quando me tocavas, lembro-me do teu corpo que mostravas sem pudor, e que me constrangia. Lembro-me de me veres apenas como um amigo e lembro-me de te querer agarrar e não ser teu amigo, lembro-me de querer apenas ser teu !

Foste o meu fantasma, foste o meu segredo, a minha única constante estes anos todos, desde o último dia em que falei contigo pelo meu telefone verde. Contei-te como me estava a transformar, no caos em que mergulhei, disse-te tudo menos o mais importante! E o click separou-nos, para nunca mais te ver, nunca mais te sentir e nunca mais te ouvir. Quero à força lembrar-te, ouvir-te ao longe, mas é-me impossível. Desculpa, esqueci-me da tua voz...

tenho tantas saudades que chego a duvidar se alguma vez exististe...