sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quando o profundo se torna óbvio… e outras coisas!

Hoje lembrei-me de ti, do verde com que me olhavas, da entoação do teu ”quê?”, das noites mal dormidas, da tua inconstância, e de muitas outras coisas.

Sinto-me vazio e tenso. Ando a vacilar. Estou perdido no caos da decisão, num limbo matemático de probabilidades, acções e consequências.
Narram-me profundo, obscuro, bizarro, ou mesmo inexistente. Mas só eu sei a verdade… Sou consequência de mim próprio, da expressa vontade e do livre arbítrio de querer ser, sou vítima do não deixar apenas ser por si.
Sou uma coisa de cada vez, invento-me, construo-me, deconstruo-me, reinvento-me. Em loop, ad eternum! Tenho esperança na evolução, assim como numa espécie de dogma budista, acredito piamente num upgrade, mas o resultado tem sido bem diferente. Acabo por ser um sofisma mascarado por um niilismo rudimentar, num blasé forçado e desesperado.

Depois há os inocentes. Esses conhecem o cru, não conhecem o acessório, o supérfluo. Não conhecem a mascara, conhecem o óbvio. Junto deles sou apenas puro carbono, resumo-me à mais básica essência.
Tiram-me o ar, deslumbram-me, arrebatam-me, mas também têm a capacidade de me arrasar apenas com a mais insignificante indiferença, apenas com um verbo ou interjeição. São a minha Síndrome de Stendhal, para o bem e para o mal. E a saudade corrói-me!

Lembrei-me de ti, do turbilhão da emoção díspar, Foi pena, fui tão óbvio e outras coisas que bem sabes, lembrei-me de ti porque sou ineficaz no presente, falta-me o descernimento para o momento para o agora. Só entendo quando já é passado, quando já é tarde demais, Mas isso já tu sabes, e outras coisas mais, além do óbvio. Coisas...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Desculpem-me se só escrevo merda

Hoje fui a uma consulta de psiquiatria há muito agendada, uma mera rotina a que estou sujeito. Todos vós conhecem a primeira pergunta da praxe, sim, todos! Agora vão-me dizer que nunca consultaram esta especialidade apenas para sacar o papelinho em triplicado da baixa psiquiátrica para poderem ir de férias sem tocar nos outros 22 dias!
Depois da pergunta banal sobre como nos temos andado a sentir, respondi:
-Sr doutor, ando porreiro, já não tenho acessos de raiva sempre que me dizem que falo sem saber, deixei de pedir dinheiro a minha mãe com aquele método infalível de encostar a Walther à minha têmpora direita e estendendo a mão esquerda... E até, veja lá, comecei a sair com raparigas sem buço. Já estou a progredir, não acha?
-Olhe, tendo em conta o seu passado, tenho de concordar consigo. Mas atenção, a terapia é para manter, você sabe bem que sem ela vai ter uma recaída!
E aqui começa outra lenga-lenga bem conhecida, mas desta vez só no círculo dos gajos realmente fodidos da bola. Todos nós sabemos que nunca, mas nunca nenhum psiquiatra prescreve apenas um medicamento. Estes cabrões estão para um doente assim como um dealer do Casal Ventoso está para um caroucho! Infelizmente para mim, estes fármacos não são exactamente a minha praia, mas saúde é saúde, e eu acredito nela. Também é a única coisa que me resta acreditar, visto que soube através de fonte fidedigna que Deus não existe. Em abono da verdade, também confesso, neste momento não tenho tido vagar para me dedicar ao que quer que seja, já que passo a totalidade do meu dia deitado no sofá a babar-me como um camelo e a assistir a todos os programas matinais e vespertinos da TVI. Não tenho forças para articular uma palavra, quanto mais força na mão para manejar o comando. E foi com base nesta minha condição incómoda que disparei um anzol a ver se o gajo mordia:
-Oh Sr. doutor, já agora, antes de me ir embora queria pedir-lhe um pequeno favor, seria possível você juntar aí na receita uma ou duas caixinhas de Ritalina? Ando um bocado com "déficit de atenção", tenho alguma dificuldade em concentrar-me!
-Oh homem, você está parvo? - gritou o gajo enquanto tirava os óculos e esbugalhava os olhos - Você não tem nada disso, você está apenas sobre medicado. Admito, até que era menos prejudicial o consumo de heroína. Aliás, a única vantagem é você não ter vontade de se coçar nem de estragar as sua lindas cicatrizes do braço, que tanto trabalho lhe deram a fazer, com marcas inestéticas causadas pelos caldos. Mas você sabe que é para o seu bem...
-Doutor, eu vou ser sincero consigo: sabe, eu iniciei um blog, e sinto-me assim um bocado preso e com as ideias dispersas, sou incapaz de escrever qualquer coisa com sentido. A única coisa que me sai é apenas um aglomerado de letras aleatórias. Um amigo meu chegou a dizer que isso se deve a eu cair em cima do teclado, mas duvido, eu tenho a certeza que é fruto das tais ideias dispersas. Por favor sr doutor...- finalizei eu enquanto juntava as mãos em prece, fazia beicinho e uma cara de choro.
-Já lhe disse que está fora de questão, isso é muito perigoso. Até lhe digo mais, você podia ignorar até as minhas recomendações em relação à proibibição do consumo de cocaína. Se já o fez no passado, fazia-o agora também. É até mais inócuo e livra-se das burocracias. Atenção, eu não estou a sugerir, percebido? Mas pronto, faz de conta que sou um amigo seu e tal...
-Foda-se sr. doutor, estou todo falido e penhorado!!! Estava a optar pela alternativa mais económica e aprovada pelo Estado, e ainda contribuía para a sua viagem às Maldivas para assistir a um simpósium.
-Puro, tenha paciência! Não posso de forma alguma. E permita-me que lhe pergunte: para que raio quer você escrever? Devo dizer-lhe que ajudava imenso você ter completado o Ensino Primário, já para não dizer que está velho demais para aspirar a uma carreira literária. E não me venha com o Saramago! Ele teve alguns factores decisivos que você não tem. Ele é cumuna, logo aí você sai do jogo. Sendo ele todo esquerdalha, logo a maldicência está-lhe nos genes. Faltado só os alvos a escolha recairá, como é lógico, nos ricos ou na igreja. Ora bem, apesar de cumuna, ele não é parvo, e sabe muito bem que são os ricos é que editam livros.
-Mas doutor, eu apenas queria escrever uns pensamentos e coisas assim, porque um conhecido meu garantiu-me que era uma forma de encetar relações íntimas com mulheres. Ele refere que, e utilizando os seus termos, as gajas gostam de foder com tipos aparentemente inteligentes e que conseguem formular uma opinião. Você sabe bem que neste campo eu ando um bocado em débito, tanto pela terapia farmacológica como pela recaída recente que me afectou fortemente o estado emocional.
-FODA-SE!!! Tanta merda só para dar umas trancadas? Tome lá 100€ e vá às putas, pago eu!
-Doutor, do fundo do meu coração, fico-lhe eternamente grato. Obrigado! Já agora permita-me só acrescentar uma coisa ao meu estado clínico que me esqueci, e acho de certa forma preocupante. Lembra-se da minha antiga personalidade, não lembra? Acho que ainda resta um ponto que se manteve, que não morreu com a outra...
-Desembuche homem, a consulta já acabou e eu tenho mais do que fazer.
-Sabe, continuo a ser um intrujão e um sacana, mas agora com mais distinção e classe. Tem de concordar comigo, mamei-lhe 100 sacos de uma forma suave e credível!!!