quarta-feira, 9 de abril de 2014

Has always, I fuck'd Up (repost)

Geração espontânea, assim apareci...
Abro os olhos, sinto a adrenalina, o frio no estômago, o entorpecimento desvanece-se como se fosse uma espécie de rigor mortis em retrocesso.

A clareza cristalina surge e que vejo eu? Vejo que se me acabou coca, condição sine qua non para aguentar o resto da noite ao som do revivalismo deprimente dos hits dos 80'as. Avaliei a situação em que me encontrava e o resultado era aterrador: estava mais do que fodido, pois nem a toda a droga e álcool deste mundo haveriam de tornar o estropício que teimava em me agarrar e beijar, numa coisa agradável, sensual ou mesmo em qualquer coisa que se assemelhasse ao género feminino.

A pior coisa que pode acontecer a um sábado à noite é sentir-mo-nos sozinhos e deprimidos, pois tomam-se decisões por impulso, e por momentos somos atingidos por uma cegueira temporária que nos tolda todo o processo de avaliação do trinómio noite-gaja-barrasquice.
Recorre-se à Reciclagem e desencanta-se um coirão que outrora desenterrámos numa rede social, e que por azar nos enganou com as fotos, pois o Photoshop já superou a Nossa Senhora de Fátima nas questões milagreiras. Já sabemos ao que vamos, mas mesmo assim insistimos no erro e tentamos enganar-nos com hipóteses remotas do género: "Se calhar ganhou o Euromilhões e fez uma reconstrução facial e perdeu 50 Quilos".
Quando por fim o reencontro presencial se dá, começamos a dar conta da asneira, e aí insistimos na auto-ilusão: "Talvez o marido também venha ou hoje só lhe apeteça conversar".

Mas não, a conjuntura veio para ficar e começamos a sentir os primeiros amassos que nem mesmo os lembretes da nossa parte em relação ao corno do marido lhe fazem peso na consciência. A minha última e derradeira esperança é que o mundo acabe naquele preciso momento.
Por milagre encontro alguém conhecido a quem me colo e me serve de desculpa (rocambolesca e inventada na hora) para abandonar aquele antro e aquela situação.
Poderia recorrer ao facilitismo de lhe dizer que estava redondamente arrependido, que ela era a minha forma de auto-mutilação e que a quantidade de coca consumida já estava a fazer efeito e já gostava de mim outra vez, mas tenho um problema grave e raro e pelo qual sou sobejamente gozado por todos, que é o respeito pelos outros. Felizmente é só às vezes...

28/05/2009

sábado, 18 de janeiro de 2014

Going Postal

Hoje decidi escrever uma carta. O destinatário? Ainda não sei, não é propriamente uma coisa personalizada, sabem como eu sou genérico e vago, provavelmente assentará a qualquer de vocês como uma luva. De preferência, de pinho... A luva!!! Mas gostaria de ser mais objectivo, de ser mais pessoal, mas aí teria que mudar nome. Imaginem só o impacto estampado nas vossas faces:
"Com amizade, do sempre teu
Theodore Kaczynski"

Embora fosse romântico, nostálgico e me desse um ar hypster e/ou cool, esta carta não será num papel tradicional e não irei cuspir num selo. Não tenho uma caligrafia decente, sou preguiçoso e além disso este espaço está como eu: precisa de algum movimento, atenção durante 5 minutos, e depois adormecer outra vez. Sem beijos, despedidas e lamechiches da merda.

O Facebook é o melhor presente que deus (um qualquer) nos deu. Sim, eu acredito piamente que é obra divina! E quando os cépticos me chateiam, não preciso de argumentar com provas credíveis, basta-me usar o vocábulo mais poderoso de todos: fé! Uma fórmula com dois mil anos não pode estar errada, certo? É mais do que uma rede social, é como se fosse os classificados do CM mas com um perfil psicológico traçado facilitando a tão querida mimetização de personalidades, múltiplas fotos com mais qualidade, não suja as mãos, posso consultar à vontade em público sem qualquer repúdio social, e o melhor: é de borla e são de borla!

O nosso querido FB é a antítese da correspondência trocada entre amigos ou paixões. Nunca irei ler no meu mural "Espero que este post te vá encontrar de boa saúde (...)"; nunca um like teu terá o odor a "Kenzo" me fará fechar os olhos e recordar a ti a rir... nem mesmo as fotos em que estás a rir conseguem isso; nunca poderei amarrotar uma private message quando vir que a cruzinha está no "Não quero namorar contigo".

O meu mural dá-me as notícias do dia. Nem sequer consulto o Google News, isso é uma forma arcaica de saber as boas-novas. Eu sou muito à frente, faço o meu próprio quiz show. Com base nas reacções e comentários, tento adivinhar a notícia. E o melhor, a cereja em cima do bolo, é que consigo adivinhar o estado da nação, ou, citando o falecido Salgueiro Maia, "o estado a que isto chegou". Mas não se esqueçam, o estado somos todos nós, as pessoas... E é aqui que toda a minha sociopatia, o valor que dou à vida humana e o respeito pelo próximo se esvai. Serei o único que sufoca com o fumo? Eu não sou uma pessoa inteligente, eu sou quase um iletrado, mas sei o que se avizinha. É mais do mesmo, o circo está montado! A esquerdalha com as mesmas músicas de sempre que versam sobre o tal povo uno e invencível, vem defender os discriminados. É agoniante, é desprezível e bafienta, essa lenga-lenga costumeira. As vossas manifs serão divertidas, disso não há dúvida alguma. Pena que os panascas e camionistas não vos oiçam em privado, nos cafés, no seio familiar, nas alturas em que despem o partidarismo cego e são assolados pela homofobia. Digam-me, quantos de vós aceitariam sem pestanejar que um filho vosso gostasse de enfiar punhos pelo cu acima, quantos de vós esboçaria um sorriso sincero de felicidade enquanto entregavam a vossa filha vestida de noiva, sem ficar enojados só de pensar na noite de núpcias? Não hesitariam em espalhar aos sete-ventos, e com requintes de malvadez, uma confissão de um amigo, de um colega de trabalho, sobre a sua homossexualidade. No fundo não são muito diferentes dos outros, dos ratos de sacristia. Ouviram? É mesmo com vocês, eles vêm aí, com as suas bandeiras tricolores, a apregoar com orgulho a doença mais letal da humanidade logo a seguir ao sexo recreativo: o preservativo. E pior: querem adoptar filhos. Mas na verdade, aquilo que vocês mais odeiam neles, é a sinceridade, a coragem e o orgulho em levar na peida ou lamber o tapete. Eles não têm medo do inferno, aquilo que vocês mais temem. Mas não se preocupem, vocês têm uma arma secreta, vocês estão a salvo. O confessionário é a vossa blindagem, lá podem dispersar esses pecados capitais: a luxúria e o amor-próprio. E é nessa altura que perceberão os misteriosos desígnios de deus, esse cabrão que vos está sempre a pôr à prova. Afinal terão que confessar os vossos pecados à pessoa que vos deu a conhecer as maravilhas do sexo anal! Não se preocupem, constituam família, tenham filhos, cresçam. Têm sempre a igreja e o Parque Eduardo VII, esses locais são sacros. Não se esqueçam, só não podem é ter prazer porque é pecado...
A minha paciência só estoira quando o clero mete o bedelho. Já nem está em causa a sodomia ou o bater panelas, isso foi uma guerra que perderam há muito. Esvaziar orfanatos é que não, cada cabeça de um fedelho ranhoso, embora pulguenta, vale dinheiro. Fechar a torneira estatal à caridade é que não. Nem vou bater na tecla da violação, na tortura, nem no verdadeiro inferno (provado pela medicina e tudo) psicológico a que condenam inocentes. É aqui, e só aqui, que apresentam provas científicas e estatísticas obscuras.

Eu também quero um referendo só meu. Sinto-me discriminado. Embora o homicídio seja legislado, sinto uma necessidade em repor a verdade. Eu sou uma minoria, faço parte daqueles que não tem qualquer pejo, e até me é algo natural, cometer assassínios. Alguns de vocês, nos vossos comentários e likes alegam que sentem vontade em praticar alguma violência física e quase letal. Mas na verdade conseguirão? É-vos realmente nato? Acho que não, acho que estão muito iludidos com esse conceito quase metafísico que é a humanidade e o seu direito. Aquilo que vocês comentam de desumano, é-me indiferente e normal. Se querem "pensar diferente" comprem os produtos da Apple, deixem-se de merdas e continuem a votar em quem vos mandam votar, continuem nesse activismo de sofá, porque é confortável e está frio. Continuem a rebuscar a interwebzs à procura de provas que sustentem o vosso vegetarianismo militante mesmo ignorando a presença de incisivos e caninos na vossa bocarra que insiste em debitar inanidades hipócritas. Quantos de vocês têm a coragem de provocar dor física a alguém sem ser consensual? Já o fizeram e admitiram que tiveram prazer nisso? Quantos de vocês cortaram com a vida social e as suas convenções sem nexo? Quantos de vocês decidiu abdicar da carreira estável como efectivo, dos impostos, da família, do país, da cidadania, da legalidade, de sair do rebanho, do medo de morrer, ou do medo da própria sombra?
Eu sei que é uma causa perdida, os vossos telhados de vidros e a vossa intuição diria-vos que no fundo estariam a assinar a vossa sentença de morte.


"Concorda que PuroDeLítio possa, no primeiro e último domingo de cada mês, fazer uso de uma espingarda Sako TRG-22 de calibre .308 e 10 respectivas munições causando ferimentos letais em espécimes humanos de qualquer raça, credo ou sexo?
"Concorda que PuroDeLítio se comprometa a não divulgar antecipadamente os espécimes escolhidos e usar essa mesma força letal de forma camuflada causando surpresa ao alvo?"

sexta-feira, 22 de março de 2013

Anacrónico Anónimo

Gostava de ter uma justificação para a ausência. Gostava de não estar, de não ser, e gostava de não gostar de ser e estar ausente.

Gostava... Um pretérito imperfeito que não me canso de repetir, talvez para justificar as minhas imperfeições, falhas e faltas. Gostava de ter um dom, de conseguir dobrar o tempo, de correr nele ao sabor da minha vontade e parar pouco antes no sítio onde me perdi. Gostava de o fazer para dizer "Gosto! Gosto mesmo muito de ti". Resta-me as memórias, onde vivo ou tento viver. Tento reconstrui-las, esforço-me para para tapar os buracos, e agarro-me às mais fortes como se a minha vida dependesse disso. E lembro-me de ti!

Mas já não passas disso mesmo, de uma memória distante e improvável, de uma memória vintage. Lembro-me de ti, dos teus medos infantis que contrastavam de uma forma engraçada com a tua força física, lembro-me de me sentir arrebatado com o teu sorriso largo e o ligeiro curvar da tua cabeça, lembro-me de tremer quando me tocavas, lembro-me do teu corpo que mostravas sem pudor, e que me constrangia. Lembro-me de me veres apenas como um amigo e lembro-me de te querer agarrar e não ser teu amigo, lembro-me de querer apenas ser teu !

Foste o meu fantasma, foste o meu segredo, a minha única constante estes anos todos, desde o último dia em que falei contigo pelo meu telefone verde. Contei-te como me estava a transformar, no caos em que mergulhei, disse-te tudo menos o mais importante! E o click separou-nos, para nunca mais te ver, nunca mais te sentir e nunca mais te ouvir. Quero à força lembrar-te, ouvir-te ao longe, mas é-me impossível. Desculpa, esqueci-me da tua voz...

tenho tantas saudades que chego a duvidar se alguma vez exististe...

sábado, 28 de abril de 2012

After all, what I really want is a Bosch* (translated from portuguese)


Strange things are happening in this blog: is getting serious! Each time, there are fewer reports of deviant behavior, it lacks general hatred, and worse, people start to like it. It was just what I needed, to be seen as a serious guy, consistent and friendly. I prefer to pretend that I'm a motherfucker irascible and reckless. It brings me all the good stuff, as well as attract shamelessly chicks, also keeps me away from the thing that makes me vomit, right after the excess of alcohol: people who claim to be at peace with their lifes!

Perhaps the latest texts are a reflection of my emotional arrhythmia, they are actually look like a bit depressed, and I think we all agree, the depressions only attracts two things: psychiatrists and futile chicks! There is nothing worse than a tasteless cow that just want to give encouragement to make sure that there are people more fucked up than her. Because there are people who do not surrender to self-deception, don't read Paulo Coelho's books, don't like cuddly animals and children, they aren't leftist, don't care about the weak and oppressed, and they are politically incorrect. I think, deep down this is the closest to the concept of "being real". I think it's the proof that "being at peace with life" is synonymous with being dead.

Some say that to live a full life requires only Love, Health and Money. If so, I am doomed because I lost faith in love when I met cocaine, lost faith in health when I met heroin, only got faith in the "speedball", something that gave me enormous pleasure while strolling through Limbo. The money never experienced, I have no family fortune, and I even think that's why I can't have the other two. I can't afford the best whores, and I have no money for more and better drugs because I have no money for the best detox centers.
I have to resign myself to the crumbs, to the chicks who still fall into the trap, to the dealers and their crafty acetylsalicylic-coke, to the forced labor, and my rudimentary hobbies.I t's a constant search for something that makes me feel alive without having to spend money . Who said being a shameless piece of shit was easy? Strangely, boredom also haunts the poor peope. It's rare but it happens ...

Many years ago I was assailed by boredom, then I tried something new: I married! I tried to kill two birds with one stone, find love and get rid of boredom. The only thing I found was even more hatred and boredom. And boredom in excess can kill a poor. But hatred is innocuous, and may even be beneficial in preparing us for a reality that is unknown until the mid-30 years: sociopathy! One of the worst things I've ever met in my life was exactly people. Apart from forced labor, of course ...
Based on this general antipathy for human plague, once I've tried to join the usefull with enjoyable, I tried to kill the boredom using people: experienced BDSM! But didn't worked out, since the idea was really causing suffer without to being desired. I forgot the "safeword" but the bitch had a poster of the written word, and could show it shortly after I untied her from the barbed wire and just before I get the ethyl alcohol bottle. I could ignore the written word on the poster claiming that it was illiterate and abhorred the "New Opportunities" and bleaching of statistics, but it was like showing a crucifix to a vampire. The word on the poster was "I LOVE YOU!"

Nowadays I try to live one day at a time. No, not into that shit of "carpe diem" does not even follow that philosophy. First because it is the most beaten thing right after Marta Leite Castro, and second because it's not true. I have just to resignate that life and people are actually a really big amount of shit and it is unlikely that the near-extinction of the human race will be a reality in a near term. If Ronaldo was a father, I believe in everything. Although we can give thanks to God (yours or another) you can watch on the spot the theory of Evolution of Species... The conclusion only will be known in few years, but I think "evolution" it's not an appropriate term, perhaps "genetic aberration" is more likely. On the other hand, maybe a new messiah was born, maybe now the term "Virgin Mary" is closer to "Son of a Bitch!"
But not everything is bad in this sad and toxic life, sometimes we still have some joys that give us strength to continue. Sometimes I even consider that self-imposed solitude can be a mistake. Of course this is only up to orgasm. Mine, of course!

I was updating my Facebook status (which is only a single sentence, but in various forms and languages: "Go fuck yourselfs!") when I received a call from an acquaintance inviting me to a triptych. Although I don't like people, I have not thought of devoting myself to the grazing, also I got tired of wanking myself as a teenager. Therefore I accepted, even for triptych: it is not every day we have this for free!
She suggested a date in some museum, and I don't even questioned, since I do not make value judgments of chicks with kinky toughts, and also because it can be funny to debauch in tedious places. When I got there, was just her, and then I realized that the lack of general knowledge can be frustrating. After all she was alone and just went to see a painting composed by three panels painted by a guy named Bosch. I was beyond of fucked. Unfortunately it was not in their literal form, but it was OK, since I was there and I had nothing better to do, I took some time and saw the fucking painting. After all, a date is a date. All we have to do is to stand all the bitch's inanities during the whole dinner just in order to do her next. That would not be very different. The only difference is that I was going to fuck her with an empty stomach, but in return hadn't to spend money to feed the bitch.
Arrived at the painting in question, I looked it with indifference, but something caught my attention. I stared myself in the middle panel, I realized that it was not very different from my current life. At this point I was assailed by doubt, and ultimately I questioned myself: what if God (anyone) exists afterall? And what if this was an almost exact representation of reality? That's when I looked at the left panel, I realized that would never be my fate, this was probably in the right pane. The existential question is bad, and for a moment I ceased to be eager to fuck the bitch, I began to consider the metaphysical and fairy tales. If I'm wrong, the surer is the eternal agony of Hell. It was at this point that I became calmer, as if I get there, I'll find a lot of well-known people. Is there that, once and for all, I will going to deprive with some VIPs.
I left introspective, thinking about all these issues. Fortunately this bitch that invited me, went there to see the picture just for pure professional purpose. She works in a Chinese company that makes reproductions of famous artworks. The dumbs and rednecks are becoming demanding, they are getting enough of the Mona Lisa and whiny brat.
When I went out of that den anti-horny den, everything returned to normal. I don't gave a fuck about faith, redemption, and the threesome who mistakenly took me there. Was the same motherfucker ever, idle, dirty bastard and hedonistic. And amazingly enough is, I'm happy!
The bitch, wink me and say:
-Now that we've seen the Bosch, let's add it an R?

* Hieronymus Bosch was a Dutch painter. Bosch produced several triptychs. Among his most famous is The Garden of Earthly Delights.
In portuguese, Bosch has similar pronunciation has Broche, wich means Blowjob.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

All Rights Reversed

Sobes as escadas até ao primeiro andar, da parte de lá como quem vem de cá e viras aí mesmo! No imenso corredor a direito, ao topo do mesmo, há uma porta sempre fechada, iluminada por uma solitária lâmpada florescente. Abres a porta e entras numa ante-câmara frigorífica! É o primeiro sinal de alarme: aqui há mortos guardados! Sim, a malta que subitamente desapareceu não foi vítima da conjuntura actual do mercado de trabalho, foram sumariamente aniquilados e posteriormente guardados debaixo do chão falso da ante-câmara. O motivo? Só naquela de curte, sei lá...

Roda a cabeça à esquerda e verás uma porta encostada. Não precisas de a abrir, espreita apenas pelo pequeno vidro lateral. Não te deixes enganar pelo pequeno porte, não te deixes enganar pelo aparente silêncio onírico. Ali encontra-se o Guardião, alguém que raramente se sente, raramente se ouve. Mas um pequeno passo em falso, uma pequena palavra inconveniente e serás trucidado por uma força avassaladora. Se passares esta provação, então poderás entrar num mundo paralelo onde nada parece ter lógica, onde o caos parece governar, onde as palavras aleatórias podem ter tanto de doce como de contundentes. Ali, e prepara-te, deixaste à partida de ter razão. E falo só da partida, porque à chegada, nunca lá ninguém chegou. Tudo e todos têm um cognome, um tratamento diferenciado, mas sempre com uma característica: abaixo de cão! A única coisa que te será negada, logicamente, será a razão!!!

-Há Coisas do Caralho! - exclamarás tu, logo à entrada. Encontrarás um senhor, com cara de senhor. Pouco se sabe sobre ele. Sabe-se apenas que foi para ali com uma única função: levantar-se de 5 em 5 minutos para rodar o botão do ar condicionado. É pago principescamente para isso, porque, e segundo más línguas, tem um padrinho poderoso e preocupado que olha por ele. Por razões obscuras acedeu cumprir mais uma função que não lhe estava destinada: operar a fotocopiadora. Há quem diga que ele curte botões, mas há quem ache também (as más línguas) que ele tem uma relação extraconjugal com a máquina... Modernices! Este senhor, com cara de senhor, fala pouco, mas quando o faz, acerta na "mouche"! Perguntem à Vanessa Fernades e Lady Gaga... Não lhe dirijas a palavra, manda-lhe antes um e-mail. Os adjectivos, esses serão proferidos, mas não os irás ouvir. Mandar-te-á também a Júpiter ou à merda, conforme a sua disposição anímica. "Há Coisas do Caralho", exclamarás tu, "Há Coisas do Caralho"...

Dá três passos em frente e roda à esquerda. Estarás frente a frente com uma senhora com cara de menina. Não, não está doente. E ela também não tem culpa que tu não saibas que pessoas de natureza magra não são um mito urbano. Esta senhora, com cara de menina, com um espírito altruísta e samaritano ajudar-te-á naquilo que for preciso. Essa mesma ajuda consiste em reencaminhar-te para a secção "À procura do amor, seja lá o que isso for, porque estou num desepero e sou um trambolho", que qualquer revista feminina digna desse nome. terá. Se a provocares serás atingido por um chorrilho de palavras graníticas e contundentes expressadas em Portunhol letal, far-te-á um daunló dos miolos pelos entrefolhos da bufa e rematará tudo isto com a interjeição mais poderosa de todas: "Caralhas!!!"

Estando à distância de um passo em frente da senhora com cara de menina, roda 45 graus à direita. Não, não é uma estátua com headphones. É o Tempo em pessoa, e toda a sua sapiência inerente. Há quem diga que remonta ao Big Bang, mas a verdade é que esta mesma pessoa foi a caudadora do Big Bang. Ao que parece, teve uma pega com Deus quando este lhe pediu para traduzir um texto de Português para Aramaico que continha a frase "Há-des mostrarme a tua joelharia!" Não ouses dirigir-lhe a palavra. Primeiro porque vozes de burro não chegam ao céu, e segundo, ela só ali está a aprender o quase-impossível: escrever mal com'á merda! Mas a idade é fodida e ela não aprende. Foi bem mais fácil ensinar-lhe a gostar de toda a discografia do Milli Vanilli e de Pan Pipes interpretadas pelas próprias Pan Pipes. Cuidado: os desejos dela costumam ser ordens inquestionáveis e impossíveis de não ser cumpridas: se ouvires "Up Yours and Rotate", olha, aguenta-te à jarda e reza para teres a pele oleosas e não teres um dedo grosso.

Visto que não tens qualquer assunto com o Tempo, vira-te ligeiramente mais à direita! Ao canto encontra-se a Salwar. Não vale a pena iniciares qualquer tipo de conversação sem teres pago um café primeiro. OK, pagaste-lhe o café, menos mal. Prepara-te, mesmo que sejas um trolha ou uma peixeira do mercado da Ribeira, ouvirás coisas que te farão corar. Se tiveres estofo e aguentares, parabéns! Passaste à fase seguinte, ou seja, tens direito a uma pergunta simples. A resposta, essa, será sempre negativa. O "não" é garantido. O "sim" poderá, numa remota hipótese, acontecer. Quer seja por uma conjunção astral favorável, ou, porque ninguém, nesse dia, a questionou sobre a razão de ainda não ter marido ou porque raio ela não está morbidamente gorda como todas as outras, porque alguém não lhe recordou sem descanso, e via telefone, que a adolescência só é uma cena chata para todos os que não são adolescentes, ou porque não se ainda não se lembrou que só há um género de sacanice: a masculina!
Salwar só tem duas dúvidas na vida que gostaria de ver esclarecidas: o significado de "Ter a Casquinha Rachada", e o significado de "Eutimia"...

Salwar é uma pessoa estranha, cuidado! Parece que arranjou um amigo laboral imaginário e que passava os dias ombro a ombro com ele. Há quem diga que até o viu ou conheceu, mas isso é um mito urbano que nunca ninguém conseguiu provar...


Foi um prazer conhecer-vos.

sábado, 25 de setembro de 2010

Rush Hour

Curto tanto blind dates que um dia destes convidam-me para sócio honorário da ACAPO...

...e a título póstumo!

domingo, 19 de setembro de 2010

Na fronteira entre o Ser e o deixar de Ser

A minha vida é muito aborrecida e monótona! É por isso que, de quando em vez, pisco o olho à morte.

Há muito tempo que não nos cruzamos, minha querida...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Anonimamente teu! ou Seja qual for a tua Graça, já não tem graça..."

Este blog evoluiu para um patamar superior, chegou às 2 visitas diárias! Excluindo as minhas, claro... Alguém (ou algo), com uma precisão baseada em horário de expediente, dedica-se exaustivamente, e de forma nervosa, feroz e aleatória, a comentar múltiplas vezes cada texto. Agradeço os elogios, mas creio que ainda não sou merecedor já que a minha antipatia, sociopatia, misogenia, misantropia e afins, ainda são muito rudimentares. Ainda me falta bastante para chegar à perfeição, à antítese do conceito socialmente unânime de Ser Humano!

Comente! Comente até mais não, como se a sua vida dependesse disso. Ofenda-me, destrate-me, dedique-se à destruição da minha pessoa, mas por favor, cada vez que o fizer, invente um nome. Na verdade é a única coisa que me chateia, gostava de ver qualquer coisa diferente, já que os insultos são todos iguais e redundantes independentemente do texto. Assim havia variedade em qualquer coisa, havia novidade.

"Eyeholes in a paper bag
Greatest lay I ever had"

...eu também gosto muito de ti... ;)

sábado, 11 de setembro de 2010

273,15 graus abaixo de zero

A primeira reacção perante algo ou alguém desconhecido, é saber o nome. É quase uma obsessão, um instinto primário que nos assola. Antroponimicamente falando, é universal, todos necessitamos de um, como se isso fosse a regra primordial para a existência, sendo até mais importante que uma contracção cardíaca, um pensamento ou mesmo um sorriso. Todos precisam de um nome, até um cadáver indigente: o Zé Ninguém!

Nome, Alaska! Sim, o nome da cidade é precisamente Nome. Um do locais mais frios neste mundo, um dos locais que venero, o meu Xangrilá. Nome fascina-me, não pelo nome, mas pela desolação, pelo inóspito, pelo branco letal ou talvez pelo extremo da emoção de uma solidão gélida e inominável! Durante horas miro-a de um forma voyeur, conheço-a de fio-a-pavio, um dia será minha, será lá que talvez um dia encontrarei a minha redenção, a minha paz, ou aquilo que mais anseio, um calor não-efémero.
Meço a minha temperatura e não há novidade: zero! Não há, é um zero absoluto, sou emocionalmente gélido, vazio, consciente... E por isso mesmo, pela tal inevitável consciência, persigo ansiosamente os 36.4º, percebi que, mais importante que o meu nome próprio, é sentir. Vale tudo para lá chegar: um risco de coca dá-me 20 minutos de clareza cristalina; uma chinesa dá-me uma hora de torpor pacífico; um risco de MDMA dá-me uma noite de paixões arrebatadas.
Idealizo situações, busco por um conceito de belo previamente encenado e interiorizado, mimetizo comportamentos observados, tento numa ânsia descontrolada mentir-me com todos os dentes que tenho e não tenho, e nas minhas perversões, paixões e orgasmos tenho todos os efeitos das drogas numa só. E por momentos existo... Mas é artificial. Tal como nas drogas, passa depressa, é plástico e efémero. Protelo, insisto, talvez pegue de estaca, mas não. É frio, é branco, é desolador.

Vale tudo para lá chegar: desde o jogo mais perverso à droga mais estimulante! Vale tudo para sentir o que quer que seja, vale tudo para provocar o degelo emocional. E no fim não vale nada, volto ao ponto de partida, onde pelos vistos será sempre o meu ponto de chegada. No fim quero ir embora, quero ir para o conforto do estar só! Não quero aquilo que tenho, só quero aquilo que ainda não tenho.

Mais uma vez, vou a jogo. Algo novo e nunca feito! Vale tudo por uma taquicardia, por um suor frio ou um sentimento de abandono corporal.
As regras estão na mesa:

Ela: Olá! Queres dar uma queca?
Eu: Sim.
Ela: Agora que sabemos que queremos, falta o onde e quando.
Eu: Agora? Assim, sem mais nem menos?
Ela: Sim
Eu: OK...
Ela: No ponto X apanhas-me e não me diriges a palavra. Se for execrável ao teu olhar, dás meia-volta e deixas-me no mesmo sítio. Se fores execrável ao meu olhar, peço-te para dares meia-volta. Se nenhum capitular, só falamos depois de dar a dita...
Eu: OK!

Embora desconfie, lanço-me no desconhecido. Ao chegar, o coração dispara! O que será? Um estafermo? Um assalto? Mesmo com o perigo de uma lâmina nas goelas, avanço sem medo, sinto calor, sinto gotas de suor, sinto arrepios de frio, sinto qualquer coisa...
E no ponto X, à hora marcada, uma mulher alaranjada, esguia, alta e bela entra no carro. Nem uma palavra... Espero a ordem de meia-volta e nada! Sigo caminho.
Joguei pelas regras, e no fim falámos. Coisas fúteis, de circunstância, mas nunca sobre os motivos sombrios nos levaram até ali. Ambos escondemos as nossas verdadeiras razões de tal jogo perverso, perigoso e emocionante. Ficará para uma outra vez, quem sabe...
Descrevo-a de olhos fechados: 1,80m, cabelos ruivos, aliás, é mesmo tudo ruivo, pele branca como leite sem qualquer sinal, um deserto de marcas de nascença, como se fosse a própria negação de uma existência, um cheiro humano, sem os supérfluos aromas sintéticos. Uma pessoa que de execrável nada tem, uma mulher com quem sonhamos... E mais uma vez, anseio por aquilo que ainda não tenho. E o mais intangível neste encontro bizarro está patente na minha pergunta, que teve apenas como resposta, um sorriso e o bater da porta do carro:

-E qual é a tua graça....?

terça-feira, 13 de julho de 2010

Déjà vu: sleepwalker


Estou!
Vinho e vodka misturam-se com o plasma, sinto o quente no corpo e na alma. Olho para cima e vejo luzes, muitas! Cores, alternância e frequência que à primeira vista são aleatórias. Olho com atenção, escuto com ainda mais atenção. A linha do baixo faz-me abanar o queixo, a batida do bombo condiciona-me o ritmo cardíaco. Há um corpo, há alguém, existe, está ali. Fecho os olhos, sigo o som, refugio-me nas luzes e tento passar incógnito, abandono-me e agarro quem existe, quem ali está, alguém...

Sinto!
Suor em todos os poros. Emoção e exaustão lutam entre si. Olho, vejo o Sol entre as persianas. Está fixo, constante e brilhante. Debato-me contra a gravidade mas ela ganha, puxa-me para baixo. Os braços cedem, o meu corpo cai, não resisto. Há um corpo, há alguém, existe, está ali. Fecho os olhos, toco-lhe, é suave, não é um sonho, não sei o que é. Tento perceber, faço uma cronologia, um rewind. Desisto, não quero saber, não quero pensar. Abandono-me e adormeço!

Oiço!
-Estive a ver-te dormir. Estavas muito sereno.
Déjà vu!!!

Talvez seja isso, a cura para tudo. Para a aceitação, para a fúria, para a letargia! Talvez esteja aí a solução: dormir para sempre! A serenidade, a normalidade, a paz. Ou a morte ainda em vida...

domingo, 4 de julho de 2010

Afinal o que eu quero é mesmo um Bosch

Estão a acontecer coisas estranhas neste blog: está a ficar sério! Cada vez há menos relatos de comportamentos desviantes, falta-lhe ódio generalizado, e o pior, as pessoas começam a gostar. Era só o que me faltava, ser visto como um tipo sério, coerente e amistoso. Prefiro fingir que sou um filho da puta irascível e estouvado. Só tem vantagens, pois além de atrair gajas sem pudores, afasta também a coisa que mais vómitos me dá, logo a seguir ao excesso de álcool: pessoas que se dizem estar de bem com a vida!

Talvez os últimos textos sejam um reflexo da minha arritmia emocional, são de facto um bocado depressivos, e convenhamos, as depressões só atraem duas coisas: psiquiatras e gajas fúteis. Não há nada pior do que uma vaca sensaborrona que nos quer dar alento apenas para ter a certeza que há gente ainda mais fodida do que ela. É que há gente que não se entrega à auto-ilusão, não lê livros do Paulo Coelho, não gosta de animais fofinho e pequeninos, não é de esquerda, não curte os fracos e oprimidos, é politicamente incorrecto. Acho que no fundo é o que mais se aproxima do conceito de "ser verdadeiro", é a prova de que "estar de bem com a vida" é sinónimo de estar morto.

Há quem diga que para se viver uma vida plena é preciso apenas Amor, Saúde e Dinheiro. Se assim é, eu estou condenado, pois perdi a fé no Amor quando conheci a cocaína; perdi a fé na Saúde quando conheci a heroína; só ganhei fé no "speedball", algo que me deu uma alegria enorme enquanto deambulava pelo Limbo. O dinheiro nunca experimentei, não tenho fortuna de família, e acho até que é por isso que não consigo as outras duas. Não tenho dinheiro para as melhores putas; não tenho dinheiro para mais e melhores drogas porque não tenho dinheiro para os melhores centros de desintoxicação.
Tenho que me resignar às migalhas, às gajas que ainda vão caindo na esparrela, aos dealers manhosos e a sua coca-acetilsalicílico, ao trabalho forçado, aos hobbys rudimentares, a uma procura incessante de algo que me faça sentir vivo sem tem que dispender de dinheiro. Quem disse que ser um impudente de merda era fácil? Por muito estranho que pareça, o tédio também assalta os pobres. É raro, mas acontece...

Há muitos anos fui assaltado pelo tédio, vai daí tentei uma coisa nova: casei-me! Tentei matar dois coelhos de uma cajadada só, encontrar o Amor e livrar-me do tédio. A única coisa que encontrei foi ódio e ainda mais tédio. E o tédio em excesso pode matar um pobre. Já o ódio é inócuo, e pode até ser salutar, prepara-nos para uma realidade que nos é desconhecida até meados dos 30 anos: a sociopatia! É que as piores coisas que já conheci na vida foi justamente pessoas. Tirando o trabalho forçado, claro...
Foi com base nessa antipatia genérica pela praga humana que um dia tentei juntar o útil ao agradável, tentei matar o tédio utilizando pessoas: experimentei o BDSM. Mas não resultou, já que a ideia era mesmo causar sofrimento sem que ele fosse desejado. Até esqueci a "safeword" mas a cabra tinha um cartaz com a palavra escrita, e conseguiu mostrá-lo pouco depois de eu a desapertar do arame farpado e pouco antes de eu pegar no álcool etílico. Podia ignorar a palavra escrita no cartaz alegando que era analfabeto e abominava isso das "Novas Oportunidades" e branqueamento de estatísticas, mas foi como mostrar um crucifixo a um vampiro. A palavra no cartaz era "AMO-TE!"

Hoje em dia tento viver um dia de cada vez. Não, não curto aquela merda do "carpe diem" nem sequer sigo essa filosofia. Primeiro porque é a coisa mais batida logo a seguir à Marta Leite castro, depois porque não é verdade. Apenas sigo resignado que a vida e as pessoas são na realidade uma grandessíssima merda e que é pouco provável que a quase-extinção da raça humana seja uma realidade a curto prazo. Se o Ronaldo foi pai, já acredito em tudo. Se bem que nisto podemos dar graças a Deus (ao vosso ou ao dos outros) de poder assistir in loco à teoria da Evolução das Espécies, de Darwin. A conclusão só a conheceremos daqui a uns anos, mas julgo que "evolução" não será um termo adequado, talvez "aberração genética" seja mais apropriado. Por outro lado pode ser que tenha nascido um novo messias, talvez agora o termo "Virgem Maria" esteja mais próximo de "Filho da Puta"!
Mas nem tudo é mau nesta vida triste e tóxica, por vezes ainda vamos tendo algumas alegrias que nos dão força para continuar. Por vezes até consideramos que a solidão auto-imposta possa ser um erro. Claro que isto é só até ao orgasmo. O meu, claro!

Estava eu a actualizar o meu estado no Facebook (que consiste apenas numa única frase mas em várias formas e idiomas: "Quero que vocês todos se fodam!") quando recebi um telefonema de uma conhecida a convidar-me para um tríptico. Embora não curta pessoas, ainda não considerei em dedicar-me à pastorícia, além disso fartei-me de punhetas ainda na adolescência. Por isso mesmo aceitei, ainda para mais um tríptico: não é todos os dias que temos disso à borla!
Ela sugeriu o encontro num museu qualquer, e nem sequer questionei, já que não faço juízos de valor de gajas com pancas estranhas, e até pode ser engraçado debochar em sítios enfadonhos. Quando lá cheguei só estava ela, e aí percebi que a falta de cultura geral pode ser frustrante. Afinal ela estava sozinha e apenas íamos ver um quadro em três partes da autoria de um gajo chamado Bosch. Fiquei para lá de fodido. Infelizmente não foi na sua forma literal, mas pronto, já que ali estava e não tinha nada que fazer, mais valia ir ver a merda da pintura. Afinal um encontro é um encontro. Todos nós temos que aguentar à jarda uma gaja a debitar inanidades durante um jantar inteiro apenas com o intuito de a comer a seguir. Aquilo não seria muito diferente. A única diferença é que ia foder de estômago vazio, mas em compensação não tinha que gastar dinheiro a alimentar uma mula.
Chegados à peça em questão, olhei-a com indiferença, mas algo me chamou à atenção. Fixei-me no painel central, comecei a perceber que aquilo não era muito diferente da minha vida actual. E foi aqui que fui assaltado pela dúvida, e se afinal Deus (um qualquer) existir? E se aquilo for uma representação quase fiel da realidade? Foi aí que olhei para o painel da esquerda, percebi que nunca seria o meu destino, esse estará provavelmente no painel da direita. A dúvida existêncial é nefasta, por momentos deixei de estar ansioso por comer a mula, comecei a considerar a metafísica e os contos de fadas. Se eu estiver enganado, o mais certo é a agonia eterna do Inferno. E foi neste momento que fiquei mais calmo, já que, se lá chegar, vou encontrar muita gente conhecida. Será lá que, de uma vez por todas, privarei com um qualquer famoso.
Saí de lá introspectivo, a pensar nestas questões todas. Felizmente esta mula que me convidou apenas foi ver o quadro por questões meramente profissionais. Ela trabalha numa firma chinesa que faz reproduções de obras de arte famosas. Os bimbos e os azeiteiro já estão a ficar exigentes, já se começam a fartar da Mona Lisa e do fedelho chorão.
Ao sair daquele antro anti-tusa, tudo voltou ao normal. Caguei na fé, na redenção, no inferno e no cabrão do trio que erroneamente me levou até ali. Continuava o mesmo cabrão de sempre, ocioso, javardo e hedonista. E pasme-se, vou sendo feliz assim.
A gaja, pisca-me o olho e diz:
-Agora que já vimos o Bosch, vamos acrescentar-lhe um R?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quando o profundo se torna óbvio… e outras coisas!

Hoje lembrei-me de ti, do verde com que me olhavas, da entoação do teu ”quê?”, das noites mal dormidas, da tua inconstância, e de muitas outras coisas.

Sinto-me vazio e tenso. Ando a vacilar. Estou perdido no caos da decisão, num limbo matemático de probabilidades, acções e consequências.
Narram-me profundo, obscuro, bizarro, ou mesmo inexistente. Mas só eu sei a verdade… Sou consequência de mim próprio, da expressa vontade e do livre arbítrio de querer ser, sou vítima do não deixar apenas ser por si.
Sou uma coisa de cada vez, invento-me, construo-me, deconstruo-me, reinvento-me. Em loop, ad eternum! Tenho esperança na evolução, assim como numa espécie de dogma budista, acredito piamente num upgrade, mas o resultado tem sido bem diferente. Acabo por ser um sofisma mascarado por um niilismo rudimentar, num blasé forçado e desesperado.

Depois há os inocentes. Esses conhecem o cru, não conhecem o acessório, o supérfluo. Não conhecem a mascara, conhecem o óbvio. Junto deles sou apenas puro carbono, resumo-me à mais básica essência.
Tiram-me o ar, deslumbram-me, arrebatam-me, mas também têm a capacidade de me arrasar apenas com a mais insignificante indiferença, apenas com um verbo ou interjeição. São a minha Síndrome de Stendhal, para o bem e para o mal. E a saudade corrói-me!

Lembrei-me de ti, do turbilhão da emoção díspar, Foi pena, fui tão óbvio e outras coisas que bem sabes, lembrei-me de ti porque sou ineficaz no presente, falta-me o descernimento para o momento para o agora. Só entendo quando já é passado, quando já é tarde demais, Mas isso já tu sabes, e outras coisas mais, além do óbvio. Coisas...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Desculpem-me se só escrevo merda

Hoje fui a uma consulta de psiquiatria há muito agendada, uma mera rotina a que estou sujeito. Todos vós conhecem a primeira pergunta da praxe, sim, todos! Agora vão-me dizer que nunca consultaram esta especialidade apenas para sacar o papelinho em triplicado da baixa psiquiátrica para poderem ir de férias sem tocar nos outros 22 dias!
Depois da pergunta banal sobre como nos temos andado a sentir, respondi:
-Sr doutor, ando porreiro, já não tenho acessos de raiva sempre que me dizem que falo sem saber, deixei de pedir dinheiro a minha mãe com aquele método infalível de encostar a Walther à minha têmpora direita e estendendo a mão esquerda... E até, veja lá, comecei a sair com raparigas sem buço. Já estou a progredir, não acha?
-Olhe, tendo em conta o seu passado, tenho de concordar consigo. Mas atenção, a terapia é para manter, você sabe bem que sem ela vai ter uma recaída!
E aqui começa outra lenga-lenga bem conhecida, mas desta vez só no círculo dos gajos realmente fodidos da bola. Todos nós sabemos que nunca, mas nunca nenhum psiquiatra prescreve apenas um medicamento. Estes cabrões estão para um doente assim como um dealer do Casal Ventoso está para um caroucho! Infelizmente para mim, estes fármacos não são exactamente a minha praia, mas saúde é saúde, e eu acredito nela. Também é a única coisa que me resta acreditar, visto que soube através de fonte fidedigna que Deus não existe. Em abono da verdade, também confesso, neste momento não tenho tido vagar para me dedicar ao que quer que seja, já que passo a totalidade do meu dia deitado no sofá a babar-me como um camelo e a assistir a todos os programas matinais e vespertinos da TVI. Não tenho forças para articular uma palavra, quanto mais força na mão para manejar o comando. E foi com base nesta minha condição incómoda que disparei um anzol a ver se o gajo mordia:
-Oh Sr. doutor, já agora, antes de me ir embora queria pedir-lhe um pequeno favor, seria possível você juntar aí na receita uma ou duas caixinhas de Ritalina? Ando um bocado com "déficit de atenção", tenho alguma dificuldade em concentrar-me!
-Oh homem, você está parvo? - gritou o gajo enquanto tirava os óculos e esbugalhava os olhos - Você não tem nada disso, você está apenas sobre medicado. Admito, até que era menos prejudicial o consumo de heroína. Aliás, a única vantagem é você não ter vontade de se coçar nem de estragar as sua lindas cicatrizes do braço, que tanto trabalho lhe deram a fazer, com marcas inestéticas causadas pelos caldos. Mas você sabe que é para o seu bem...
-Doutor, eu vou ser sincero consigo: sabe, eu iniciei um blog, e sinto-me assim um bocado preso e com as ideias dispersas, sou incapaz de escrever qualquer coisa com sentido. A única coisa que me sai é apenas um aglomerado de letras aleatórias. Um amigo meu chegou a dizer que isso se deve a eu cair em cima do teclado, mas duvido, eu tenho a certeza que é fruto das tais ideias dispersas. Por favor sr doutor...- finalizei eu enquanto juntava as mãos em prece, fazia beicinho e uma cara de choro.
-Já lhe disse que está fora de questão, isso é muito perigoso. Até lhe digo mais, você podia ignorar até as minhas recomendações em relação à proibibição do consumo de cocaína. Se já o fez no passado, fazia-o agora também. É até mais inócuo e livra-se das burocracias. Atenção, eu não estou a sugerir, percebido? Mas pronto, faz de conta que sou um amigo seu e tal...
-Foda-se sr. doutor, estou todo falido e penhorado!!! Estava a optar pela alternativa mais económica e aprovada pelo Estado, e ainda contribuía para a sua viagem às Maldivas para assistir a um simpósium.
-Puro, tenha paciência! Não posso de forma alguma. E permita-me que lhe pergunte: para que raio quer você escrever? Devo dizer-lhe que ajudava imenso você ter completado o Ensino Primário, já para não dizer que está velho demais para aspirar a uma carreira literária. E não me venha com o Saramago! Ele teve alguns factores decisivos que você não tem. Ele é cumuna, logo aí você sai do jogo. Sendo ele todo esquerdalha, logo a maldicência está-lhe nos genes. Faltado só os alvos a escolha recairá, como é lógico, nos ricos ou na igreja. Ora bem, apesar de cumuna, ele não é parvo, e sabe muito bem que são os ricos é que editam livros.
-Mas doutor, eu apenas queria escrever uns pensamentos e coisas assim, porque um conhecido meu garantiu-me que era uma forma de encetar relações íntimas com mulheres. Ele refere que, e utilizando os seus termos, as gajas gostam de foder com tipos aparentemente inteligentes e que conseguem formular uma opinião. Você sabe bem que neste campo eu ando um bocado em débito, tanto pela terapia farmacológica como pela recaída recente que me afectou fortemente o estado emocional.
-FODA-SE!!! Tanta merda só para dar umas trancadas? Tome lá 100€ e vá às putas, pago eu!
-Doutor, do fundo do meu coração, fico-lhe eternamente grato. Obrigado! Já agora permita-me só acrescentar uma coisa ao meu estado clínico que me esqueci, e acho de certa forma preocupante. Lembra-se da minha antiga personalidade, não lembra? Acho que ainda resta um ponto que se manteve, que não morreu com a outra...
-Desembuche homem, a consulta já acabou e eu tenho mais do que fazer.
-Sabe, continuo a ser um intrujão e um sacana, mas agora com mais distinção e classe. Tem de concordar comigo, mamei-lhe 100 sacos de uma forma suave e credível!!!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vanished Love

Fazem-me imensas perguntas, há pessoas muito curiosas sobre o que é (ou quem é, vá...) afinal o Puro DeLítio. Aos gajos, a resposta a enviar é standard: "Vai-te encher de foder, seu panasca do caralho!"; já às fêmeas respondo conforme a foto que enviam, tanto posso fazer uma citação do Nicholas Sparks, caso tenha uma inteligência inversamente proporcional ao tamanho das mamas, ou numa remota hipótese de a gaja não ler a Happy e ter ideias próprias respondo que sou um erro a evitar. Se há coisa que não faço é mentir, mas também não nego o filho da puta que há em mim. Neste caso tento cortar o mal pela raíz, contribuo para um mundo melhor, mas ainda assim não nego uma refrega, não há nada melhor que debater conceitos niilistas antes de me vir. Isto não acontece amiúde porque por muito que vos custe acreditar, nego-me a fazer mal a pessoas, mas às vezes perco-me no processo dou comigo a despir a pele do lobo e a não ter cuidado com aquilo que desejo.
No primeiro caso , com as mantelhonas mamudas, é fácil, despojo-me de qualquer indício de espinal medula e recorro ao melhor tipo de relação jamais inventada: o speed-dating! Em Português de Rede Social é conhecido como o "foder e bazar".


Um destes dias fizeram-me a pergunta mais idiota de sempre, mas tinha rasteira:

-Puro, tens algum dom?

Fiquei a pensar naquela merda, eu não sei fazer a ponta de um corno, nem jogar à bola sei, foda-se! Pela primeira vez decidi responder a verdade:

-Minha querida, a tua pergunta tem o seu quê de sacanice, mas para um sacana, sacana e meio, dizia o meu avô. Eu tenho um dom, um dom muito especial e uso-o em circunstâncias extremas, quando algo não corre bem ou já não sei dar a volta à questão. Acontece-me imenso pintar labirintos complexos, idealizar cenários idílicos e fingir que sou linear. Mas a realidade é bem diferente, quando o labirinto só tem becos sem saída, quando as paisagens parecem uma pintura do Inferno de Dante e dou conta que afinal que aquilo que mais quero é completamente inexequível porque detesto ser agarrado (não confundir com abraçado, ok? ), estalo os dedos e ESFUMAÇO-ME. Sim, literalmente sem deixar rasto!!!
É esse o meu dom, DESAPARECER!!!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sal e a lista de compras

Após almoço, sentado à minha secretária, estou em pânico. Com a mão esquerda esfrego a cara e deslizo-a para o cabelo, ao mesmo tempo que bufo e esbugalho os olhos. Nesse mesmo instante chega a Sal, uma colega de trabalho que mudou de nome só por causa da indumentária que mais gosta. Sal é petit nom de Salwar. À parte desta pequena obsessão, tem um hábito bem mais estranho, gosta de beber cafés sem os pagar. Todos os dias arranja desculpas, cada uma mais esfarrapada que a outra... ou esquece-se da carteira, ou não tem trocado (esta bastante útil, já que a máquina só funciona a moedas), mas a minha preferida é aquela em que menciona o cavalheirismo à moda antiga, um dogma que necessita de ser revitalizado, e que me dá a mui nobre honra de o perpetuar, jurando a pés juntos que a vez de ela pagar é por altura das calendas gregas.
Sal repara no meu gesto, e enquanto despe o casaco, interroga-me o que me preocupa, o porquê do bufar e daquela cara de preocupação psicótica. Digo-lhe que necessito de escrever qualquer coisa não há nada que me ocorra, estou completamente apagado e tudo me parece fútil, óbvio, demasiado revelador, demasiado íntimo, enfim, nada me parece agarrar para matraquilhar no teclado. Em tom de gozo ela sugere que eu lhe escreva a lista de compras, talvez encontre nos perecíveis algo apropriado para o meu texto. Isto talvez tenha sido uma indirecta, um paralelismo entre o curto prazo de vida de um iogurte e a podridão imediata das minhas narrativas. Mesmo assim concordei, não achei nem boa nem má ideia, afinal já fui buscar inspiração a coisas bem mais improváveis, outrora encontrei a minha heterossexualidade num búzio!
Primeiro consultei a Home Page do supermercado em que as compras iam ser feitas, procurei a planta onde está esquematizada a disposição dos diversos produtos. Sal começa então a ditar as faltas e eu comecei a escrever:

-Café .........................2 emb
-Sumo Laranja .................2 garraf 1.5L
-Agua caramulo ................2 garraf. 5L
-Vodka Eristoff ...............1 Garrf. (aqui não respeitei o pedido e emendei para Moskovskaya)
-Manteiga Magra President .....1 Emb 250g
-Bifes de Frango
-Presunto .....................500g
-Camarão cozido-médio..........1Kg

Sal parece estar como eu, esquecida das suas falta ou apenas tem outros pensamentos que se sobrepõem às carências básicas de uma dispensa. E equanto ela olha para cima e para a esquerda tentado visualizar a imagem dos produtos que têm lugar vago no armário, sorrateiramente acrescento quase como por instinto de sacanice mais um item à lista. Talvez por necessidade de exteriorizar algo ou apenas por achar engraçado escrevi:

-Eutimia ......................Q.B.

Passo-lhe a lista com uma planta do supermercado em anexo, em que desenhei uma espécie de mapa do tesouro ou a solução de um labirinto, é o caminho mais directo para os escaparates e prateleiras certos de modo a minimizar o tempo perdido. Junto também uma estatística das horas menos movimentadas consoante os dias da semana e dos meses. No fundo aplico o conceito "Just in Time", talvez por ter um sentido prático muito grande ou então porque tento compensar em pequenas coisas o meu "Mau Timing". Seja como for, eu sei que a Sal pertence à pequena percentagem de mulheres que detesta fazer compras... em supermercados, claro!
Ela confere a lista, agradece o meu empenho, mas chega ao fim da lista e faz cara feia. Dispara uma série de perguntas, umas a seguir às outras, quase comendo as sílabas de cada palavra:

-Eutimia? Que merda é esta? Mas tu estás a gozar comigo meu filho da puta? Aposto que isto tem alguma relação com os teus deboches, com as tua vida triste e tóxica. Não basta tu fazeres figuras bizarras também queres que os outros sejam iguais a ti? Estou mesmo a ver, eu pergunto a um funcionário onde está a Eutimia e no mínimo sou ridicularizada através de gargalhadas estridentes. Na pior das hipóteses sou expulsa...

Neste momento fiquei aterrado, a minha brincadeira inocente não contou com o facto de Sal não saber o significado de tal palavra. Ela conhece-me, sabe que nunca fujo muito ao meu próprio padrão de imoralidade. Mas senti-me irado, talvez pela falta de confiança que todos têm em mim ou pela minha incapacidade de fazer rir alguém. O típico escritório em pladur começou a transformar-se numa sala anecóica, com os relevos dos absorventes de som, toda branca, muito branca, iluminada por potentes luzes difusas encastradas no chão, a roçar os 6500ºK. Sal estava num extremo e eu no outro. Esqueci-me da expressão "Gato escaldado de água fria tem medo", esqueci-me do quão demoníaco posso ser, e disparei num tom de cólera em crescendo:

-Eutimia, Salwar, eutimia... Que merda será a Eutima? Será um conceito inventado por mim num desejo imenso de pertencer a algo, a alguma coisa? Será a minha busca incesante de enquadramento? Será um novo jogo perverso, uma parafilia onde busco cada minuto, cada segundo, um flash de paixão? Será o estado de Clareza Cristalina, de extâse e clarividência, de sentir cada sinapse a disparar proporcionado pelo consumo exacerbado e incessante de cocaína? Será o sentimento de amor por tudo, por todos, a extrema complacência, a adoração quase teológica de pequenos pormenores coloridos, sonoros ou palpáveis, a hipertermia e taquicárdia causada pelo ecstasy? Será mais um jargão técnico utilizado por gajos que adoram definir os outros, que escutam impávidos e serenos, abanando a cabeça afirmativamente, a explicação de cada golpe que demos na carne, de cada agrafo cravado, de cada excesso propositado ou atitude mais ou menos ilegal? Será um grupo marginal que queira fugir à standardização e à hegemonia falaciosa da moral, dos bons costumes, da vida familiar, do amor ao próximo, do respeito, dos impostos, das dívidas, das regras rígidas de socialização, dos argumentos decorados à nascença, da escolaridade obrigatória, da recriminação da puberdade, da carreira, das obrigações laborais, da responsabilidade, da resignação, do envelhecimento, e do culto mórbido da morte previamente marcada sem nunca ter vivido sequer um dia que fosse de uma vida inteira? Ou no fundo, talvez seja aquilo que mais procuro, a antítese de tudo aquilo que sou, talvez seja a paz, a tal normalização mortífera e enfadonha mas que ainda assim tenha pena de não ter, talvez a Eutimia ainda me venha a dar uma carreira, uma licenciatura, um amor incondicional, um automóvel, uma casa, a seriedade, a linearidade, e por fim, a morte pacífica com a consciência de tudo aquilo que fiz não causou mossa a ninguém. Talvez saiba de antemão que esta Eutimia que tanto quero será a negação completa de tudo aquilo que sou, daquilo que faço, digo ou penso, talvez saiba que no dia em que a atingir serei um zombie, um normalóide repugnante, um seguidista que se limita a balir.

Neste momento a sala voltou ao normal num metamorfose estranha, quase parecida com o efeito do LSD ou do robot líquido do "Exterminator". Senti o rubor da minha face, uma pinga de suor escorreu até à minha sobrancelha, e nesse preciso momento engoli em seco. Tinha acontecido o mais improvável, rasguei a pele que me cobre e saí ligeiramente, dei um vislumbre bem real do que sou, ou de quem sou, como queiram... Tinha perdido o controle, meticulosamente programado e encenado. Isto, não pode acontecer, seria entregar a minha cabeça de bandeja, tinha de arranjar depressa forma de dar a volta à situação. Aquele rosto de pânico e terror da Sal era bastante revelador, ela tinha visto o Diabo!
Esbocei um sorriso, daqueles tão amarelos como um girassol e disse em tom de gozo:

-..ou em alternativa, podes ir ver ao dicionário...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Em simultâneo

Multitasking: acto de andar de tasca em tasca com o intuito de beber e drogar até morrer ou esquecer, o que chegar primeiro.

A Ofélia disse-me à boca cheia, assim do nada:
-Os homens são incapazes de fazer duas coisa o mesmo tempo!
Foi literalmente à boca cheia, foi enquanto m'amava forte e feio.
Este pequeno lembrete desconchavado, inoportuno e descontextualizado da acção iniciou um processo de raciocínio lógico, um erro crasso para um homem em plena barrasquice. Tomando como verdadeira a frase proferida pela mantelhona, fui incapaz de manter a rigidez ao mesmo tempo que o meu pensamento deambulava por questões filosóficas, de destreza motriz e da percepção espaço-temporal.
Para manter a credibilidade tentei arranjar uma desculpa convincente, algo que não ferisse os sentimentos da moça. Não foi difícil, mesmo que tivesse dito que aquilo tinha acontecido por uma conjugação astral negativa, ela teria engolido. Em abono da verdade, até eu me convenci disto, é preferível ser crente e devoto do que estar em pleno na consciência, é preferível acreditar que há coisas que nem a própria razão explica, ou indo mais longe, acreditar em divindades incongruentes. Mas não! Tal como uma vítima de afogamento sofre de um espasmo da glote, eu também sofro de espasmos inconscientes quando me tento ludibriar. Posto isto, apenas disse à gaja que ela tinha razão, que eu era incapaz de fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo:
-Minha querida, é-me impossível recorrer à auto-mutilação e manter uma erecção. Lembrei-me que, para mim, isso é a antítese do prazer. Desculpa mas vou trocar-te por uma faca de serrilha. É que o aço inoxidável na minha carne é de longe menos doloroso que ouvir-te dizer "tipo:", "dissestes" ou mesmo os constantes auto-elogios ao teu loiro-barracas!!!
Depois desta desculpa, basei, e felizmente ela ainda se despediu de mim com um sorriso , a minha desculpa pareceu-lhe um elogio, e é nestas alturas que percebo que a ignorância pode ser, de certa forma, uma benção!

Diante do meu processador de texto penso nesta questão pertinente! Este mesmo software assenta num Sistema Operativo multitarefa, algo que à nascença me é negado, mas que contraponho com toda a gana! E este texto é a prova irrefutável disso mesmo, está a ser escrito enquanto executo as obrigações laborais, enquanto represento a personagem de homenzinho responsável que faz parte a população activa. E porque me mantenho eu nesta tormenta interminável? Porque tenho demasiadas coisas para fazer, não posso descurar as minhas obrigações para com os inocentes enquanto me tento convencer que tenho arcaboiço suficiente para aguentar a consequência da asneira, porque ser um desistente não é opção, nem viável nem aceitável... Tudo isto enquanto me debato num lamaçal psicológico que teima em apagar cada vez mais a memória que tenho da minha génese mais pura, e que a esta altura do campeonato já me é difícil manter o fio-condutor da personagem actual.
Tudo isto é pensado e executado enquanto tento também, de uma forma mais acessória ou supérflua, a minha felicidade e os meus quereres.

Em cada acção que executo, em cada frase que profiro, tudo isto está presente, tudo isto é tido em conta. E é por isso mesmo reajo com alguma violência quando me dizem que só sou capaz de fazer uma coisa de cada vez. Mas no fundo era isso que eu queria fazer, apenas uma coisa e a seu tempo,queria apenas acordar, amar os inocentes, escrever asneiras, amar alguém, viver a puta da vida e adormecer. Queria o mais básico possível, uma coisa de cada vez, mesmo sendo eu uma aberração da natureza, um gajo multitasking.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

White Noise

Detenho-me uns curtos segundos a olhar-me nos olhos! Embora a ânsia se apodere de mim, refreio-me para tentar de vez descortinar a tal de alma que parece estar nas minhas córneas. Nada! Não está lá nada! Apenas dois círculos castanho-verde que cada vez mais são ocultados pela negritude da pupila. Que vejo eu enquanto fico estático, e debruçado sobre a mesa onde está o espelho? Apenas a mossa da idade, a pele papuda das olheiras, as maçãs-do rosto com um aspecto inchado por força da gravidade e pelo facto de eu estar a olhar para baixo. O espelho reflete uma cor homogénea, rosada, mas no meio destaca-se um pequeno pormenor branco, muito branco. Estes breves instantes de alheamento são bruscamente interrompidos por um toque no lombo e uma voz meio nervosa:
-Despacha-te, foda-se!
Voltei a mim, assenti, peguei no tubo e risquei a linha. Dentro de breves minutos todas as minhas dúvidas existênciais iriam desaparecer, não tarda nada já iria ter todas as certezas do mundo, deixando para trás todas essas minudências que me tolhiam a capacidade de raciocínio lógico, a sensatez na tomada de decisões, a falta de amor-próprio, a ausência total de um "self"... A clareza cristalina iria surgir, e com ela também viria o magnânimo "Eu".

Este episódio deu-se há 5, 6 anos. Embora insignificante na altura, foi um ponto-chave na minha vida. Só uns tempos mais tarde tive consciência dele, numa daquelas alturas em que edito a "timeline" da minha vida, quando faço uns "inserts" aqui e ali. É a forma que tenho de recordar, de achar algum sentido. Pego nas memórias, alinho-as e tomo como ponto de referência cronológico, episódios marcantes. São os meus "keyframes", assim não há falhas de "raccord". São também estes mesmos "keyframes" que me permitem chegar a uma conclusão quando faço o resumo da história. Embora seja sempre tarde demais, permitem-me por vezes exorcizar ou compreender a causa do tormento do passado.
Este pequeno instante descrito foi quando percebi que a juventude tinha ido de TGV, foi quando percebi que já era um adulto retardado e que me negava a despir a pele da inconsequente adolescência. Foi quando conheci um outro "eu" demoníaco, assombrado e completamente desconhecido.

Hoje tive um "keyframe"! Novamente em frente a um espelho, mas este estava pendurado na parede e eu estava sozinho. Nada de acessórios, comportamentos desviantes, companhias bizarras, estava apenas na banalidade do acto de lavar as mãos depois de ter mijado.
Eu e o pseudo-silêncio. Pseudo, sim, há sempre som, aquele ruído que se espalha em todo o espectro da frequência audível, aquele silvo que ignoramos, aquele "sssssssssssssssssss"... Só mesmo no vácuo nos livramos dele, algo intangível, humanamente impossível mas que ainda assim gostaria de conhecer.
Olho para mim, é inevitável, mas sem contemplações, sem qualquer tipo de vislumbre de algo que está para lá do óbvio da realidade, olho-me porque é um reflexo natural, tal como é o pentar com os dedos, o afagar de cabeça, o certificar que existe ainda amor-próprio. É neste preciso instante que vislumbro uma tonalidade capilar diferente, algo novo. A hegemonia do marrom foi assaltada pela clareza cristalina de apenas um fortuito branco. Apenas um... Mas parece que há mais!

Para os meus contemporâneos, os gajos que assistiam ao Hino Nacional no final da emissão, ou para os de faixa etária mais recente, quando desligam a ficha da antena da TV, informo que "White Noise" é o som ruidoso que ouvem, o tal "ssssssssssssssss".
O branco fascina-me, é supostamente uma cor de paz, tranquilidade, mas eu venero-o, traz-me recordações, conclusões, ânsias, claridade, alegria, tristeza e também me avisa que já sai do horário nobre, que a emissão entrou agora na recta final. Seguirão os programas da treta, o resumo das notícias, o hino, a mira técnica e finalmente o "white noise". Depois disto não sei, ninguém sabe, mas quero acreditar que é a paz, o branco e o silêncio absoluto.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ainda vou a tempo?

-Oh pá, porque não escreves um livro?
Ora aí está a pergunta que nos últimos tempos se tem tornado incómoda e aborrecida. Ainda não o suficiente para retorquir com um "Talvez no dia em que ler o teu epitáfio!", mas para lá caminha.

Todos conhecem a profecia de Andy Warhol, aquela cena dos 15 minutos, bem como um adágio ou lá o que é, plantar a árvore, ter um bastardo e escrever um livro. Porque raio queremos estas merdas? Queremos ser famosos para alimentar um conceito fútil ou mesmo uma doença que nos impele a ser histriónicos. Juntando a isto há necessidade de justificar e colorir a porca existência, regemo-nos por valores e objectivos que nem sequer questionamos mas que cegamente seguimos como que estivesse inscrito no nosso código genético. Eu não sou diferente, mas tento ser. Há que contrariar a tendência!!!

Será viável? Não estou a ver uma gaja qualquer foder comigo sem preservativo, não estou a ver alguém no seu perfeito juízo a querer por no mundo parte do meu ADN, isso seria perpetuar um defeito, um acidente. Seria como espalhar a SIDA de uma forma consciente, mas neste caso seria conceber uma doença em forma de gente.
Plantar uma árvore exige trabalho, exige mexer na terra, exige cavar um buraco, exige sujar-me! Esta é fácil: ter trabalho, eu? Vão-se foder...
Hoje em dia tudo o que é merda escreve um livro. Qual será o interesse em ler uma biografia sobre um azeiteiro que ficou famoso pela sua estupidez e pelo gosto em ficar privado da liberdade? Até que ponto é que queremos acreditar que a filha de um humorista consegue meter cunhas no Céu ou no Inferno?

Confesso, gostaria de ser famoso! Mas pelos piores motivos, ou não fosse eu um adepto da contra-corrente e dos comportamentos bizarros. Não me importo até de o ser postumamente, mas recuso-me a utilizar 15 minutos da minha vida em futilidades efémeras. Gostaria de ser um Theodore Kaczynski ou mesmo um Sante Geronimo Caserio.

O livro... Escreverei logo após ter plantado um pinhal inteiro, ainda maior que o de Leiria como forma de compensação. Ainda tenho o bom-senso em não abater árvores apenas porque há alminhas entediadas que gostam de ler caralhadas e relatos de comportamentos bizarros que envolvem drogas, putas e uma ou outra ilegalidade. Além de ter a percepção que talento não é sinónimo de ter piada!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sistematicamente inexistente

Por mais voltas que dê, desisto de tentar escrever uma entrada para este texto. Já ensaiei diversas formas mas nenhuma se adapta. E porque merda quero eu aqui tal coisa? Talvez porque queira alavancar, de uma vez por todas, um texto meu para um plano superior tal como Arquimedes queria para o Mundo, mas debato-me com um dilema semelhante ao do estronço que descobriu o PI ao Quadrado, mas nunca o Pipi: o Ponto Fulcral! Para os intelectuais que ignoram as leis da Física, que usam pullovers remendados e óculos a fazer lembrar andaimes ou para as misses suburbanas que ignoram a sua própria existência, eu exemplifico de uma forma lúdico-realista: é como falar de amor e paixão sem nunca ter fodido uma gaja (a pagar ou não) ou autoproclamar-se de vacão liberal e irresistível e nunca ter sido comida por um gajo que estivesse sóbrio. Tal como eles não me pauto por um fio condutor, sou incongruente, parco em objectividade e tenho um raciocínio indefinido. É-me impossível ter princípio, meio e fim. Resumindo, sou irremediávelmente anacrónico em pensamentos, palavras e acções.

Posto isto avanço sem demoras para a minha tábua de salvação que deveria ter sido logo o início desta verborreia toda, uma fórmula mais que batida mas que vem colmatar a minha deficiência em entradas, inícios e preliminares: uma puta de uma citação!!!

Sistema; s. m. conjunto de princípios que formam um corpo de doutrina; forma de governo; conjunto de leis ou princípios que regulam certa ordem de fenómenos; processo antiquado de classificação dos seres vivos, em que se formam grupos (artificiais) de indivíduos considerando um só carácter ou um muito pequeno número de caracteres; conjunto de orgãos constituídos fundamentalmente por uma categoria de tecidos; modo; hábito.

Plutão, esse pigmeu longínquo, que recentemente foi atirado para uma categoria qualquer que não a de planeta. Que eu saiba ele ainda não emigrou, continua a fazer carrosel à volta do Sol. Mas por outro lado talvez não saibamos que afinal ele expressou a sua vontade em deixar de fazer parte de um grupo onde se integra também o esgoto do Universo: o planeta Terra. Talvez por isso se tenha auto-excluido, e por vontade própria, deixar de andar à volta do Sol, e assim Plutão já não faz parte do Sistema Solar. Dias da Cunha aproveitou este mesmo facto para, e de uma vez por todas, provar a existência de um tal Sistema, mais perigoso ainda que a Bilderberg, e que tem como objectivo prejudicar o Sporting. Ao que parece ele acredita na astrologia, e quem mexe em Plutão, irá mexer futuramente em todos as constelações de forma a moldar o futuro.
O misterioso Sistema, esse moinho de vento do D. Quixote de Alvalade, tem mais ramificações. Está tão embrenhado no nosso quotidiano que o aceitamos sem questionarmos sequer a sua origem nem a sua finalidade. Não, não faço mais referências à Bilderberg, à Opus Dei e nem sequer à Maçonaria. Nunca acreditei em teorias da conspiração, apenas compreendo que gajos de meia idade gostem de se juntar para jogar maratonas de Monopólio, que tenham como hobby a auto-flagelação ou que curtam usar saias. Não acredito que estes beneméritos tenham influência em Sistemas políticos, financeiros ou mesmo em Sistemas telefónicos.
À luz dos recentes acontecimentos sobre escutas, contra-escutas e Guias de Portugal, também fui vítima deste grande bug Y2K atrasado que parece ter assolado as terras Lusas. Tal como Sócrates exigiu a Pinto Monteiro, também eu reclamei em sede própria os meus problemas telefónicos.
Faço parte de uma grande empresa onde a intercomunicação é essencial, por isso todos nós temos um telefone e o tão querido número atribuido de 4 dígitos, e que dá azo a respostas dúbias e jocosas à pergunta: "Qual é a tua extensão?"
Sou pouco conhecido nesta empresa, mas hoje tornei-me famoso, atingi um patamar de estrelato só alcançável pelos engraxadores, brochistas, vacas e chibos. Eu sei que acabei de generalizar, metade da empresa está aqui, mas impera o 8 ou 80, ou se é VIP ou se é anónimo. Mas hoje a tendência inverteu-se, e o nome Puro DeLítio ecoou em toda a empresa e fiquei indelevelmente gravado na memória de todos! E sem sequer ter lambido o cu a alguém, sem ter sacudido água do capote, sem ter virado paneleiro ou mesmo sem ter posto implantes de silicone. O meu número de telefone sofreu o fenómeno estranho, um Quantum Leap*(1), andou a deambular num universo paralelo sem destino previamente conhecido. Todos os que ligaram para mim foram atendidos em departamentos diferentes, em andares diferentes, e quase que arrisco por espécies diferentes. Todos eles ouviram mesma pergunta: "Estou, é o Puro DeLítio?" Nenhum ouviu a pergunta uma segunda vez, pois assim que a chamada terminava e o chamador fazia nova tentativa, o salto quântico levava a chamda para outro lugar distante.
Fui indagado presencialmente sobre este problema e prontamente declinei qualquer responsabilidade, e comprovei-o porque o meu aparelho estava mudo, nem sequer o Piii tinha. Desfeito o equívoco, contactei uma secção pródiga em respostas parvas, dadas por gente ainda mais parva. Expus o caso e foi-me dada a informação que se tratava de um problema. Como não fiquei contente, retorqui com uma ameaça de um "post" no meu blog tendo por base os problemas e a sua génese recorrendo exclusivamente a adjectivções que ilustram as vidas alternativas e as parafilias dos técnicos de telefones. O medo tomou conta da santa alminha que estava no outro lado da linha e a resposta tremida quase chorona foi desta vez mais objectiva e concisa: "Houve um problema no Sistema, ele está em baixo"

Este dia foi rico em termos linguísticos e compreendi melhor a Génese do Problema. Afinal essa mesma génese assenta exclusivamente nessa Singularidade que é o Sistema em Baixo!
Este texto já vai longo, e como tenho que fazer juz aos meus anacronismos, passo a sintetizar o início do meu dia:
levantei a peida da cama mais cedo e fui ao banco. Após longa fila de pessoas, animais e outra coisa qualquer que se assemelhava a um Madeirense, ou Neandertal, não tenho a certeza, dou de caras com filho da puta obeso e caracterizado pela cavalgante alopécia, o caixa. O sacana, antes de qualquer gesto meu, vociferou qualquer coisa como: "O sistema está em baixo". Perguntei-lhe imediatamente o que isso queria dizer e ele responde que é o motivo pelo qual eu vou ter que me sentar. Esperei até o sistema ganhar tesão, mas ele parace ter herdado os genes do caixa, não irá subir com Viagra, bombas de vácuo, velinhas a Nossa Senhora, cantáridas e nem mesmo um ou dois dedos no cú.
Zarpei dali sem vislubrar qualquer erecção do sistema, e já atrasado cheguei à estação comboio, e numa tentativa rápida de procurar entre as 5 máquinas de bilhetes, qual seria a menos ocupada, fui informado que só duas bilheteiras estavam em funcionamento. Segundo eles, havia um problema no sistema.

Mudando a cronologia, chego ao fim do dia marcado por uma sequência de acontecimentos estranhos, que põe em causa toda percepção temporal e espacial da Teoria da Relatividade. Nem mesmo eu que sou vítima do meu relativismo infundamentado ou da minha falta de capacidade argumentativa, me lembraria de tal absolutismo genérico e multiusos. Mas a mímica é cruel, e quando fui finalmente confrontado por quem me quer comer até ao osso, e talvez até me queira dar um ou outro beijo de língua seguido de um "Gosto de ti, és bom gajo", questionou-me porque razão a evitava, porque a ignorava, se a achava feia e desinteressante, se eu tinha finalmente saido do armário, de que raio tinha eu medo... Esta última questão despertou-me uma merda que teimo em esconder, a consciência, essa puta inoportuna que dá de si quando menos preciso dela. Não há hipótese, ela não é meritória de uma frase-feita, javarda, repelente e, mais importante, não sentida. Eu também não mereço ser conhecido pelo que não sou...

-Sabes Sandra, eu neste momento estou em processo de actualização, fiz um reboot...
Os seus olhinhos ternos já não estão na diagonal nem semi cerrados, já não apresenta sinais de estar fodida da vida, já se parece com algo meigo mas mesmo assim parece querer insistir naquilo que irá ser, provavelmente, numa experiência a não repetir. Eu sou, indubitávelmente, um erro a evitar. Sandra insiste, talvez ela própria se ache na peça que anda a faltar, e na sua quase-certeza inabalável, ela volta à carga:
-PdL, meu querido, mas porque tens medo de um coisa séria comigo, porque te negas? E que processo de actualização é esse? É o do Amor...?
-Sim Sandra, é o Amor, estou irreversívelmente sem Sistema...

*-*-*

*(1)Quantum Leap-série estúpida do início dos anos 90, criada por Donald P. Bellisario, e tinha como tema central, um gajo incorpóreo condenado a viajar em realidades paralelas e assumindo diversas personalidade. Um bocado como eu mas mais feio, chungoso, desinteressante e sem conta no Facebook.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Na génese do problema

No dia 1 de Fevereiro de 2003 o Space Shuttle Columbia falhou na reentrada. Para os alienados deste mundo, o Columbia não é um gajo que bezerrou na segunda oportunidade, é uma nave espacial. Sim, já existem fora dos livros e até já foram à Lua. Não, não dormiram demais, apenas têm carências fisiológicas que não vos permite reter informações complexas, caso contrário entrariam em apneia.
Segundo a NASA, dona da engenhoca, depois de meses de exaustivos testes, análises, discussões, orgias auto-eróticas e campeonatos de beber café, concluiu que se tratou de um acidente. Creio que perderam tempo, pois bastaria ter perguntado a qualquer ser humano ou a um português, e a resposta seria imediata: foi um acidente do caralho!
Mas não, os Americanos desprezam os humanos e os árabes, nunca acreditam em nada do que sai da boca destas aberrações. Por isso mesmo, todas aquelas santas almas julgavam que aquilo era o Bush a proporcionar um épico fogo de artifício para celebrar o 4 de Julho. Nem o facto de estarem em Fevereiro os fez duvidar. Em abono de verdade, foi um espectaculo digno de um Fim-de-Ano na Madeira...

Facto: foi um acidente. Mas, e porquê? É esta questão pertinente que reune o consenso de todos, Americanos, Humanos, Árabes, Portugueses e até um ou outro Transmontano. Esta questão de saber onde está o problema de algo, de alguém, de uma doença, está na nossa assinatura genética, gostamos de escamotear o passado para identificarmos o problema presente. Mesmo que isso não traga a solução, mesmo que não salve uma vida ou um engenho caríssimo.
Gastamos muito tempo das nossas vidas, consumimo-nos até, a tentar descobrir o porquê de algo que no fundo talvez seja intangível. Talvez seja mesmo obra do caos, da inevitabilidade, do curso natural das coisas e até, para os crentes, dos Deuses estarem seriamente fodidos.
A questão primordial, a meu ver, é: conseguimos alterar um momento exacto no passado de modo a evitar o problema? Não será mais proveitoso aceitar os factos e gerir as coisas daqui em diante de forma mais proveitosa?
Perdemos tempo precioso em merdas do passado apenas para nos foder ainda mais no presente. Ao descobrir a causa acabamos por ampliar o efeito.

A génese do meu problema?
É simples: está na puta que me pariu, e por essa mesma razão!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Carta de intenções

Olá!
Serve esta missiva para me apresentar de uma forma sucinta a todos aos que por engano aqui vierem ter. É, sou um indivíduo formal e educado, que gosta do aprumo e da rigidez das regras e das mamas! Convém não esquecer que, embora educado, continuo a ser um homem...
Mas nem sempre fui assim, aliás, esta minha forma de estar e de agir é bem recente e faz parte do meu renascimento! Não comecem já com merdas, não abracei a religião, não tive visões proféticas de Deus, Alá, Buda, Dino Meira e nem sequer sou amigo da Alexandra Solnado. Eu explico: desde há muitos anos que isto me acontece de forma cíclica, reinvento um novo eu, levo uma vida normal e depois entro em declínio até chegar a um estado deplorável que culmina na minha "morte". Isto acontece por uma razão, padeço de uma doença crónica chamada Borderline, algo que me trás alguma satisfação porque esta denominação anglicista e rara dá-me algum status, uma espécie de doença exclusiva dos ricos e de figuras distintas. Têm que concordar comigo, era muito chunga eu dizer que sofria de hemorróidas e tinha uma carrada de chatos.
Apesar das teses clínicas apontarem como causa destes ciclos, os Equinócios, os Solstícios e o Índice NASDAQ, a verdade é que tenho reparado que esta minha condição é coíncidente com o início e termo das minhas relações amorosas. Mas só nas de média-longa duração, porque nas curtas, as ocasionais, não tem acontecido nada, apenas acordo no dia seguinte com menos 300€.
Para ser mais detalhado e ao mesmo tempo ser mais mais abrangente no universo de leitores, passo a explicar de uma forma cénica e comparativa:
Pá, sou mais maluco de um Bipolar mas não tenho tomates para chegar a Esquizofrénico! Sou irascível (bruto com'ó caralho), passo de um estado depressivo para um estado eufórico num curto espaço de tempo (estou uma beka fodido e depois, de repente, fico todo alucinado), abuso de substâncias tóxicas (dou na coca à força toda, e se oferecerem, eu aceito) e recorro à auto-mutilação numa forma muito própria, enceto relações inconsequentes com mulheres ditas "low expectations" que me causam uma certa repulsa (fodo os pulsos e os braços com uma naifa).
Creio que a minha singela e digna apresentação está feita, resta-me agora deixar-vos apenas uma mensagem:
Depois digam que não vos avisei!